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O sofrimento

Enquanto algumas nações estorcegam em sofrimentos inomináveis, padecendo injunções de terríveis dores, outras explodem em falsas alegrias e em alguns estertores do prazer, desfrutando da ilusória alegria dos sentidos, longe das emoções transcendentes da harmonia ou felicidade reais.

Em plena glória terrestre, o jovem príncipe Sidarta Gautama, que seria o Buda, foi tomado de inenarrável melancolia ao verificar o quanto o corpo físico vive na ilusão, e refugiando-se na meditação, tempos depois, no Parque das Gazelas, proclamou que tudo é sofrimento.

Naquela ocasião esclareceu que o sofrimento se apresenta em variadas formas, que foram denominadas como as Quatro nobres verdades.

Explicou que o objetivo existencial é superar o sofrimento e expôs os oito passos que levam à libertação.

Ele próprio viveu a experiência encantadora e grave, conseguindo a sublime realização da conquista da paz interior.

Através desses passos grandiosos a existência humana passou a ter um sentido fundamental, considerando-se a imortalidade do ser, que foi criado para ser pleno.

Séculos depois, Jesus, compadecido das inomináveis aflições que consomem o ser humano, veio à Terra e demonstrou que somente o amor nas suas mais variadas expressões pode proporcionar a plenitude.

Ele próprio deu a existência, após viver os mais variados sofrimentos enquanto prosseguiu amando, e através da ressurreição demonstrou que Deus é o amor ao alcance de todos e é o grande libertador das mazelas e deficiências que produzem o padecimento.

A Sua mensagem ofereceu às Nobres quatro verdades o tesouro inapreciável da alegria de viver em qualquer circunstância, porque o amor é a solução para todos os problemas existenciais.

Transcorridos dezenove séculos, o Espiritismo veio demonstrar através da caridade que o amor é acessível a todas criaturas e expande os incomparáveis recursos da solidariedade, da misericórdia, da bondade e do perdão que são suas facetas sublimes.

O ser humano, entretanto, opta, na sua teimosa ignorância, pelo prazer dos sentidos, embriagando-se no tóxico do gozo momentâneo que mais o infelicita, porque, para que possa desfrutar de bem-estar, encharca-se de sensações desgastantes que terminam por atirar suas vítimas no poço da loucura…

O prazer, embriagador e rápido que varre as nações que se comprazem na alucinação destes dias, transforma-se em distúrbios incontáveis logo depois e a grande massa humana continua a sua marcha em busca de uma paz que é impossível nessas circunstâncias.

O Carnaval que alucina e asselvaja a alegria, degradando os sentimentos, logo depois apresenta os seus resultados infelizes nas chagas físicas, morais, sociais, que continuam consumindo os seus foliões.

Artigo publicado no jornal A Tarde, coluna Opinião, 23 de fevereiro de 2023.